The Mönic lança “Cuidado Você”

The Mönic lança “Cuidado Você”

Prepare-se para conhecer uma nova banda de rock. Embora a The Mönic já se movimente bastante na estrada, tendo inclusive tocado com o Garbage no Circo Voador, quando ainda se chamavam BBGG, “Cuidado Você” marca uma nova fase na história delas e tem tudo para sacudir a calmaria que habita o cenário do rock nacional atualmente.

Primeiro álbum no qual elas priorizam cantar em português (com exceção da faixa “Walk All Over Me”), “Cuidado Você” foi produzido por Rafael Ramos (Pitty, Titãs, Dead Fish entre outros), trazendo onze músicas inéditas e autorais com uma sonoridade bastante peculiar; um punk rock dançante misturando influências diversas, aliadas a um minucioso trabalho vocal, já que as quatro integrantes cantam, harmonizam vozes e recheiam os refrões com coros irresistíveis.

Essa química vocal e a performance incendiária nos palcos chamou a atenção de Rafael, que contratou a banda em 2019 e passou a lançar suas músicas pela gravadora Deck. Desde então, ele e banda foram trabalhando com calma no repertório até decidirem ser a hora certa de entrar em estúdio para gravar o novo álbum.

Depois de um disco (Deus Picio de 2019), singles isolados e até um EP acústico gravado remotamente durante a pandemia, o grupo formado por Ale Labelle (Guitarra e Vocal), Dani Buarque (Guitarra e Vocal), Joan Bedin (Baixo e Vocal) e Thiago Coiote (Bateria e Vocal) registraram as novas canções em longas sessões no Estúdio Tambor, no Rio de Janeiro, virando dias e noites ao lado do produtor e do engenheiro de som Jorge Guerreiro. “Acho que é o grande momento da vida de todos nós. É nossa estreia cantando em português (sentimos que só isso é praticamente um recomeço) e, embora possa haver uma mudança de público, certamente vamos nos comunicar com mais pessoas cantando na nossa língua. Nossa meta é nos conectarmos com quem curte nosso som” – comenta a vocalista Dani Buarque, que também destaca a produção de Rafael Ramos – “Foi incrível a forma com que ele mergulhou no nosso mundo. Saímos de lá com o pensamento de que não importa o caminho que o disco venha a seguir, já somos a banda mais feliz do mundo por ter vivido esse processo com tanto afeto, em um mundo pós-pandêmico, onde está se apostando tão pouco em coisas novas. Estamos com sangue nos olhos para trabalhar esse disco da melhor maneira possível, colocando o pé na estrada e no acelerador” – finaliza.

Contundente e ao mesmo tempo divertido, “Cuidado Você” traz letras sobre relacionamentos, autonomia e críticas que posicionam o discurso da banda contra uma sociedade conservadora, preconceituosa e desigual. Criadoras do festival “Não tem Banda com Mina”, onde priorizam em sua programação artistas mulheres e que já teve edições esgotadas em São Paulo e no sul do Brasil, a banda apresenta um forte viés feminista, refletido em composições como “Aquela Mina” e “Atear”, mas não se limitando a isso, abordando temas diversos como TDAH, vícios e questões existenciais como em “Kamikaze”, que fecha o disco com seu refrão marcante.

Com espírito underground e olho no mainstream, The Mönic mostra força e resiliência lançando um disco corajoso, criado e gravado em tempos de trevas na política brasileira, amplificando a visão das mulheres sobre o mundo nos dias atuais. Desafiando o algoritmo, contrariando estatísticas e questionando o senso comum de que o rock está morto, essa banda é prova viva de que a chama está acesa, só não vê quem não quer.

Faixa a faixa:

1. O anúncio de que há quatro vocalistas na banda é feito na abertura do disco com Simplifica. Trazendo uma sonoridade potente que expressa urgência e velocidade, de uma rodovia, de um beijo. Ela também fala do quanto uma mina pode pretender ficar com alguém sem grandes expectativas ou complicações, derrubando o mito de que procuramos apenas romantismo. Pode ser simples assim, como um mais um são dois.

2. Sabotagem foi uma das primeiras músicas a serem compostas para o novo disco, e também a primeira a entrar no repertório de shows da banda. Ela traz uma afirmação da nova identidade musical do grupo, fruto das jam sessions realizadas para compor o álbum. Após a criação de um arranjo explosivo, uma letra subversiva era o que faltava para acompanhar a narrativa de autossabotagem que, por si só, já era notada na atmosfera musical da canção.

3. Bateu foi o single escolhido pela banda para dar o pontapé inicial no trabalho do álbum, e foi a canção do repertório que saiu mais fluidamente, de forma descontraída durante os ensaios. Ela também marca o início de um recurso vocal muito utilizado no disco: os berros-screamos da Dani. Derreta-se!

4. Antes Tarde chega macia e se transforma subitamente em um punk rock dançante. Regada por um vocal expressivo e coros da banda inteira, ela fala sobre o livramento de relacionamentos tóxicos com pessoas que claramente deveriam estar fazendo terapia.

5. Envolta por um sinistro riff inicial, Bruxaria é um som que se revela gigante através de seus belíssimos caminhos melódicos, explorando as vozes de todas as quatro integrantes. A letra reflete sobre monotonia e inseguranças, te levando a lugares proibidos e misteriosos.

6. Não dá traz uma base groovada e pesada, com ares saudosos do rock noventista. A surpresa vem desde o começo quando uma voz masculina surge, revelando o cantor que existe no baterista, Thiago Coiote. Nas pontes e refrões, as quatro integrantes dividem os vocais em cima de um instrumental dinâmico, soltando o grito: “O seu corpo é revolução!”.

7. Faixa com o andamento mais acelerado do disco, TDA traz divertidos corinhos, sendo escrita simultaneamente a uma conversa despretensiosa que poderia ter sido jogada fora, mas foi transformada em canção. É o som oficial das rodas punk feitas durante os shows. Além de abrir a roda, Dani também passa sua guitarra para um fã segurar os acordes enquanto o bicho pega no mosh pit.

8. Punk rock, melodia, quatro vozes e um refrão chiclete. Tudo isso acontece assim que a música começa no single que antecedeu a estreia do disco: Atear. Uma letra reflexiva sobre medos em um cenário sombrio de uma cidade decadente, narrando a necessidade de jogar na fogueira o peso de tudo o que é negativo, que te põe pra baixo, trazendo luz à possibilidade de se livrar de tudo que te faz mal.

9. Destinamos a todas as sapatões maravilhosas desse mundão, Aquela Mina é um hino punk lésbico envolvente, presente no repertório da banda desde os primórdios, em 2017. A letra narra o encontro apaixonado entre duas mulheres.

10. Walk All Over Me é a única faixa em inglês do disco.
Pesada e dançante, essência que se mantém em todas as faixas do álbum, aqui falamos sobre hipocrisia e a importância de se impor frente às pessoas que nos sugam.

11. A impermanência de tudo que nos habita é escancarada em Kamikaze. Escrita sob os efeitos colaterais da existência, a faixa responsável por fechar o disco tem uma harmonia que conversa diretamente com a letra da canção. Poderia ser trilha do filme “Melancolia”, por remeter ao sentimento de urgência e, ao mesmo tempo, de aceitação por uma luta interna impossível de se vencer: a dor existencial.