31 maio Dead Fish – Ponto Cego
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- A Inevitável Mudança
- Sangue Nas Mãos
- Pobres Cachorros
- Não Termina Assim
- Sombras Da Caverna
- O Melhor Em Um
- Doutrina Do Choque
- Etiqueta Social
- SUV’s (Stupids Utility Vehicle)
- Apagão
- Janelas
- Messias
- Receita Pro Fracasso
- Descendo as Escadas
Mudanças no Governo, polarização política, polêmicas e desinformação embalavam o Carnaval de 2019 ao mesmo tempo que o estúdio Tambor (RJ) recebia os veteranos do Dead Fish para a gravação de “Ponto Cego”, oitavo álbum de estúdio da banda. Com 15 faixas inéditas, o registro faz um recorte da situação política, econômica e social do Brasil “de golpe a golpe” e "o retrato da vida de um cidadão médio de condomínio”, numa janela temporal do impeachment de Dilma Rousseff à eleição de Jair Bolsonaro.
"Ponto Cego" não é o título de nenhuma faixa mas o termo é citado em todas as canções: em representações positivas, como ‘do ponto cego da história brotam vozes de resistência e de luta’ em “A Inevitável Mudança”, ou negativas, como ‘no ponto cego, o grito é em vão’ de “Apagão”. A narrativa circular e não cronológica aprisiona o ouvinte/observador em um labirinto vertical do qual a única saída possível parece ser ligar os pontos — cegos entre si — e tão facilmente detectáveis a quem está de fora.
Desde a saída do baixista Alyand, Marco Melloni (bateria), Ric Mastria (guitarra) e Rodrigo Lima (vocal), sem vínculos e sem prazo, estavam preocupados apenas em fazer um disco consistente e relevante, descartando composições insatisfatórias e afiando o discurso. Mastria, com seus riffs velozes e arranjos elaborados, trouxe uma renovação ao hardcore sempre enérgico que a banda vem apresentando nesses 28 anos de estrada. Rodrigo, conhecido por sua escrita afiada, retomou a parceria com Alvaro Dutra (Dissonicos/Pulso), iniciada no álbum “Vitória” (2015), para desenvolver e aprimorar o conceito do disco, além de contar com Gabriel Zander (Noção de Nada/Zander) na faixa “Descendo as Escadas”. Zander também já havia contribuído com Lima, e assina o hit “A Urgência”, de 2004.
Toda essa dedicação foi recompensada com a volta da banda para os braços da Deck, gravadora que lançou “Zero e Um” (2004) e impulsionou a banda para palcos e públicos maiores, colecionando álbuns de estúdio, ao vivo, DVDs, clipes, turnês e prêmios. Rafael Ramos volta a assinar a produção de um álbum do Dead Fish em “Ponto Cego” e garante a passagem do disco para o Colorado, nos EUA, a fim de ser mixado por ninguém menos que Bill Stevenson, em seu estúdio The Blasting Room. Baterista de bandas como Descendents, ALL e do clássico absoluto Black Flag, Bill tem suas digitais na produção de importantes nomes do hardcore das últimas décadas — entre os quais, NOFX, Propagandhi, Face to Face e Rise Against. A masterização ficou por conta de Jason Livermore, parceiro de Stevenson que além dos nomes já citados masterizou bandas como Hot Water Music, Strung Out e Lagwagon. Por fim, coube ao artista Flávio Grão traduzir essas ideias e criar a identidade visual do disco. Grão já havia trabalhado com o grupo na coletânea independente “Faces do Terceiro Mundo” (2002).“Ponto Cego” já nasce histórico. Não só por ser um disco cuidadosamente feito por uma banda experiente, mas por registrar um fragmento da história que vem sendo negada e apagada pelos novos narradores. Um disco ao mesmo tempo urgente e reconfortante por enfatizar que essa história ‘não termina assim’.